Planta no lugar do papel higiênico? É sustentável, mas não a melhor maneira

Plectranthus barbatus, já ouviu falar nessa planta? Provavelmente sim, mas não com o seu nome científico. Ela é conhecida popularmente como boldo, muito usada no Brasil para fazer chá quando se está com problemas digestivos e que de uns tempos para cá vem sendo estudada como uma alternativa sustentável e mais econômica ao papel higiênico, tanto na África como nos EUA.

Será que essa tendência pega aqui também? O boldo é pouco traumático, por possuir superfície mais aveludada, macia e não irritativa. Além disso, têm folhas com cheiro agradável e dimensões próximas a pedaços de papel higiênico tradicionais.

Mas é importante deixar claro que a melhor forma de higienizar a região ano-genital, segundo especialistas, é sempre lavá-la com água corrente e sabão. Apenas assim garantimos a eliminação dos resíduos fecais e não causamos trauma à pele do local.

Riscos ao trocar papel por plantas

Folhas de boldo no banheiro?
Folhas de boldo no banheiro? Imagem: Getty Images/iStockphoto

Sem nenhum cuidado de higiene e mínimo conhecimento sobre plantas, o uso de qualquer tipo de folha para se limpar intimamente pode causar vários problemas. Além de machucados (traumas), irritações (ardência, queimação), alergias (coceira, inchaço), infecções fúngicas e bacterianas, verminoses e desconfortos. Você também pode acabar exposto à sujeira de animais que passaram por ali (resquícios de fezes, urina, sangue).

E mesmo plantas obtidas em áreas urbanas podem oferecer riscos, não apenas as coletadas na natureza. Se vieram de áreas públicas, podem ter sido expostas a poluentes, pesticidas ou outros produtos químicos prejudiciais. Como alternativa, você pode considerar cultivar suas próprias plantas em casa, sabendo ao certo o que está usando e quais cuidados têm tomado, mas ainda assim muita cautela.

Quais podem --ou não-- ser usadas

Se alguém estiver acampando e não houver papel higiênico disponível, existem algumas opções de folhas que podem ser usadas. Além do boldo, musgo e azedinha, devemos considerar plantas com baixas toxicidade e alergenicidade e suavidade no contato direto com a pele. Mas mesmo folhas muito aveludadas também podem ser irritativas às vezes.

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Outras folhas que podem ser usadas e até possuem propriedades medicinais (antibacterianas, anti-inflamatórias, antimicrobianas, antissépticas), incluem: aroeira, confrei, barbatimão e goiabeira. Essa última, segundo estudos científicos brasileiros, in vitro até inibe o crescimento e combate o fungo da candidíase.

Agora, passe longe dessas plantas: caládio, também chamado de tinhorão ou coração-de-jesus, que possui oxalato de cálcio, causando irritação e inchaço em todo o corpo. Ou hera, que contém uma substância chamada urushiol, um óleo que causa reações alérgicas e até bolhas na região de contato.

Urtiga também pode causar dermatites sérias. Nessa planta (em minúsculos pelos que se espalham pelo caule e pelas folhas) existem várias substâncias agressivas, como histamina, acetilcolina e ácido fórmico.

Quer trocar o papel higiênico por plantas?

Primeiro consulte o médico que cuida de sua saúde íntima e depois siga algumas etapas. Certifique-se de que a planta é segura e adequada para esse uso e leve em conta a preservação do ambiente nativo. Em algumas áreas, pode ser ilegal fazer coletas sem permissão. Por isso, verifique leis e regulamentos locais antes de coletar plantas em áreas públicas.

Para limpar as folhas antes do uso, é recomendado lavá-las com água. Agora, se não for possível lavar as folhas, você pode tentar agitá-las suavemente para remover a sujeira solta antes de utilizá-las para a higiene pessoal. Mas sempre haverá riscos.

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Se sintomas se manifestarem após a utilização de folhas para se limpar, o jeito é se virar como pode. Com água e sabão neutro disponíveis, se lave o mais rápido possível. Se não passar, mantenha compressas frias locais e evite aplicar quaisquer cremes ou pomadas. Persistindo o desconforto, procure ajuda médica. Raramente é caso de emergência, exceto alergias com repercussão respiratória.

Fontes: Lêda Telesi Castro, cirurgiã e coloproctologista, especialista em hemorroidas e médica no Hospital Municipal Prof. Dr. Alípio Corrêa Netto (SP); Roberto Neves, dermatologista e professor da Afya Educação Médica de Fortaleza; Fabiano de Abreu Agrela, biólogo membro da Royal Society of Biology, do Reino Unido, Eduardo Sandoval, proctologista e professor da Unifran (Universidade de Franca).

*Com reportagem publicada em 24/06/2024

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