'Tive AVC na esteira e hoje mostro que buscar o corpo perfeito é arriscado'

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A influenciadora digital Nicole Peixoto Freire teve um AVC (Acidente Vascular Cerebral) aos 20 anos enquanto corria na esteira da academia. Na época, ela fazia loucuras para emagrecer em pouco tempo.
Devido ao AVC, ficou com o lado esquerdo paralisado e até hoje tem sequelas, mas leva uma vida saudável, com acompanhamento alimentar e de educador físico. Ela contou sua história a VivaBem.
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'Fui à academia e minha vida mudou'
"Em novembro de 2015, fui para a academia e nem imaginava que ali minha vida iria mudar. No mês seguinte eu viajaria para a praia com minhas amigas e por isso intensifiquei meus treinos para perder alguns quilos.
Eu não era gorda, mas não estava satisfeita com meu corpo e fazia extremos para emagrecer em pouco tempo. Já cheguei a ficar um dia todo sem comer e, quando me sentia fraca ou com tontura, tomava um copo de refrigerante, assim o açúcar fazia eu me sentir melhor.

Como eu queria emagrecer para a viagem, resolvi fazer um treino de alta intensidade na esteira da academia para aumentar meu gasto calórico, mesmo não me alimentando corretamente.
Nesse dia, enquanto eu corria, me senti mal, caí e já na hora senti meu lado esquerdo do corpo paralisar. Liguei para o meu pai e em poucos minutos estava no hospital, fazendo diversos exames.
Nicole Peixoto Freire
Eu mal conseguia me mexer e, por diversos médicos estarem a todo momento entrando e saindo da sala, percebi que algo de grave havia acontecido. Nesse momento eu temi pela minha vida.
Após alguns exames, os médicos chegaram à conclusão de que eu havia sofrido um AVC devido a uma dissecção arterial e isso aconteceu por eu já ter uma pré-disposição ao problema, mas eu não sabia dessa situação. Sempre fiz exames anuais e nada havia sido diagnosticado até então.
O AVC paralisou meu lado esquerdo, fiquei com o rosto torto e não conseguia andar. Fiquei internada por oito dias, sendo três deles na UTI e esses, sem dúvidas, foram os piores dias da minha vida.
Nicole Peixoto Freire
'Saí em cadeira de rodas'
Saí do hospital em uma cadeira de rodas, sem ter a certeza se voltaria a andar. Na época eu morava em Curitiba e me mudei para São Paulo, onde morei por dois anos, para fazer a minha reabilitação.
Durante dois anos, me dediquei exclusivamente às sessões de fisioterapia: fazia pela manhã e à tarde. Eu sabia que precisava tirar forças de onde eu não tinha para voltar a andar. E, como só dependia de mim, fiz o meu máximo.
Aos poucos, voltei a mexer a perna esquerda, deixei a cadeira de rodas de lado e comecei a dar os primeiros passos sozinha.
Enquanto eu me reabilitava, conheci um homem, que hoje é meu marido, e em 2017 eu engravidei. Os médicos foram contra a gestação e chegaram a pedir para eu fazer um aborto, já que minha vida estava em risco. A gravidez aumentava o risco de uma trombose e meu cérebro ainda não havia se recuperado do coágulo que tive devido ao AVC.

Resolvemos seguir com a gestação e, com acompanhamento de diversos profissionais, deu tudo certo: minha filha e eu ficamos bem.
Segui fazendo reabilitação, ganhando força e cuidando da minha alimentação. Com essas práticas, emagreci 15 quilos e hoje levo uma vida saudável.
Por causa do AVC, perdi os movimentos da mão esquerda e algumas atividades precisam ser adaptadas, mas não deixo de fazer nada. Eu dirijo, vou à academia, cuido da minha filha e trabalho.
Uso as redes sociais para contar a minha história e tentar mostrar para as pessoas que a busca pelo chamado corpo perfeito, de forma imediata, é arriscada e não vale a pena.
Nicole Peixoto Freire
Medicações e dietas extremas podem ser muito perigosas e não vão trazer um resultado duradouro. Tento mostrar que cuidar da saúde, da alimentação e fazer exercícios físicos constantemente são o melhor caminho, mesmo que não seja o mais rápido."
Estilo de vida x AVC
O estilo de vida tem um papel fundamental no risco de uma pessoa sofrer um AVC. Alimentação desregrada, consumo excessivo de álcool e tabagismo aumentam a probabilidade de problemas cardiovasculares, que podem desencadear a condição. Além disso, estresse crônico e privação de sono também são fatores que contribuem para alterações na pressão arterial e na circulação sanguínea, aumentando esse risco.
Uma vida de extremos, de dietas restritivas, de sobrecarga de exercício físico, pode predispor o indivíduo a ter complicações de saúde, entre elas um acidente vascular cerebral.
Fernando Gomes, neurocirurgião e professor da Faculdade de Medicina da USP
No caso da Nicole, o AVC foi causado por uma dissecção arterial, que ocorre quando há uma ruptura na camada interna da parede de uma artéria, permitindo que o sangue se infiltre entre as camadas e forme um canal falso dentro do vaso. Esse processo pode reduzir ou bloquear o fluxo sanguíneo podendo causar AVC ou ruptura da artéria.
Exercícios intensos, manipulações cervicais e até mesmo movimentos bruscos da cabeça podem desencadear a condição em pessoas predispostas. "Muitas vezes uma dissecção arterial acontece devido a um trauma ou uma lesão mecânica, por exemplo, um esforço muito forte, um impacto direto na região cervical ou até mesmo por meio de massagens como a quiropraxia", diz Gomes.
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